sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Falar do Brasil... Sem estar no Brasil...

Há exatramente um mês, nesse horário, preparava-me para voar para Paris.
Melhor, mudar para Paris.
Móveis e pertences no meio da casa.
Lágrimas que insistiam em escorrer.
Incertezas.
Dúvidas.
Alegria.
Tristeza.
Todos estávamos à beira de um ataque de nervos.
Às 18 horas, pego o carro para o Rio de Janeiro.
Minha mãe em prantos pelo vidro de trás do carro foi a última visão.,,
Juiz de Fora foi ficando para trás...
Uma vida foi ficando para trás...
Um nova vida era parida... a forcéps... naquele momento.
Mês que se arrastou entre sorrisos e lágrimas... afagos e solidão... amizade e inimizade... saudade... saudade... saudade... saudade.
Hoje, tenho meu apartamento, estudo francês, assisto a aulas e seminários incríveis na Sorbonne. Tento dar ritmo a uma vida que ainda encontra-se descompassada.
Descubro a beleza nas mínimas coisas de Paris.
Me descubro nas mínimas coisas... hoje me emocionei ao passar uma pilha de roupas.
Descubro minhas mínimas coisas no flanar por Paris... meus segredos mais escondidos.
Mas, diante de tudo isso... só uma poesia me veio à mente.
Uma única coisa, escrita por Fernando Pessoa ...
Novamente, continuamos com os mesmos dilemas...

Viajar?

Para viajar basta existir. 

Vou de dia para dia, como de estação

 para estação, no comboio do meu corpo,

 ou do meu destino,

 debruçado sobre as ruas e as praças,

 sobre os gestos e os rostos,

 sempre iguais e sempre diferentes,

 como, afinal, as paisagens são.

 Se imagino, vejo.

 Que mais faço eu se viajo?

 Só a fraqueza extrema da imaginação

 justifica que se tenha que deslocar para sentir.

 "Qualquer estrada, esta mesma estrada de Entepfuhl,

 te levará até ao fim do mundo".

 Mas o fim do mundo,

 desde que o mundo se consumou dando-lhe a volta,

 é o mesmo Entepfuhl de onde se partiu.

 Na realidade, o fim do mundo,

 como o principio, é o nosso conceito do mundo.

 É em nós que as paisagens tem paisagem.

 Por isso, se as imagino, as crio;

 se as crio, são; se são, vejo-as como às outras.

 Para que viajar? Em Madrid, em Berlim,

 na Pérsia, na China, nos Pólos ambos,

 onde estaria eu senão em mim mesmo,

 e no tipo e gênero das minhas sensações?

 A vida é o que fazemos dela.

 As viagens são os viajantes.

 O que vemos, não é o que vemos,

 senão o que somos.

 (Fernando Pessoa)

2 comentários:

  1. Estou de boca aberta!! Do Carmo e Pessoa sintetizando a vivência turística!! Lindo.

    ResponderExcluir
  2. voltei para ler este texto hoje. muito inspirador teu blog, Carmo. beijos, Dani.

    ResponderExcluir