Melhor, mudar para Paris.
Móveis e pertences no meio da casa.
Lágrimas que insistiam em escorrer.
Incertezas.
Dúvidas.
Alegria.
Tristeza.
Todos estávamos à beira de um ataque de nervos.
Às 18 horas, pego o carro para o Rio de Janeiro.
Minha mãe em prantos pelo vidro de trás do carro foi a última visão.,,
Juiz de Fora foi ficando para trás...
Uma vida foi ficando para trás...
Um nova vida era parida... a forcéps... naquele momento.
Mês que se arrastou entre sorrisos e lágrimas... afagos e solidão... amizade e inimizade... saudade... saudade... saudade... saudade.
Hoje, tenho meu apartamento, estudo francês, assisto a aulas e seminários incríveis na Sorbonne. Tento dar ritmo a uma vida que ainda encontra-se descompassada.
Descubro a beleza nas mínimas coisas de Paris.
Me descubro nas mínimas coisas... hoje me emocionei ao passar uma pilha de roupas.
Descubro minhas mínimas coisas no flanar por Paris... meus segredos mais escondidos.
Mas, diante de tudo isso... só uma poesia me veio à mente.
Uma única coisa, escrita por Fernando Pessoa ...
Novamente, continuamos com os mesmos dilemas...
Viajar?
Para viajar basta existir.
Vou de dia para dia, como de
estação
para estação, no
comboio do meu corpo,
ou do meu destino,
debruçado sobre as
ruas e as praças,
sobre os gestos e os
rostos,
sempre iguais e sempre
diferentes,
como, afinal, as
paisagens são.
Se imagino, vejo.
Que mais faço eu se
viajo?
Só a fraqueza extrema
da imaginação
justifica que se tenha
que deslocar para sentir.
"Qualquer
estrada, esta mesma estrada de Entepfuhl,
te levará até ao fim
do mundo".
Mas o fim do mundo,
desde que o mundo se
consumou dando-lhe a volta,
é o mesmo Entepfuhl de
onde se partiu.
Na realidade, o fim do
mundo,
como o principio, é o
nosso conceito do mundo.
É em nós que as
paisagens tem paisagem.
Por isso, se as imagino,
as crio;
se as crio, são; se
são, vejo-as como às outras.
Para que viajar? Em Madrid, em
Berlim,
na Pérsia, na China,
nos Pólos ambos,
onde estaria eu senão
em mim mesmo,
e no tipo e gênero das
minhas sensações?
A vida é o que fazemos
dela.
As viagens são os
viajantes.
O que vemos, não é o
que vemos,
senão o que somos.
(Fernando Pessoa)
Estou de boca aberta!! Do Carmo e Pessoa sintetizando a vivência turística!! Lindo.
ResponderExcluirvoltei para ler este texto hoje. muito inspirador teu blog, Carmo. beijos, Dani.
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